Gestão do conhecimento, conceito de “ba” e inovação - parte 1

Gestão do conhecimento, conceito de “ba” e inovação - parte 1

A gestão do conhecimento identifica recursos de conhecimento para seu gerenciamento, necessitando ser categorizados, classificados e armazenados para o reúso.

Publicado: 2021-11-10 por Rafael Rocha

O que é conhecimento

O conhecimento é postulado por Platão como “uma crença verdadeira justificada”. No entanto, o problema de Gettier propõe o contraexemplo (GETTIER, 2021): “Smith tem a crença justificada de que «Jones possui um Ford». Smith conclui (justificadamente, pela regra de adição) que «Ou Jones possui um Ford, ou Brown está em Barcelona», embora Smith não tenha nenhum dado sobre onde Brown se encontra. Jones não possui um Ford, mas por estranha coincidência, Brown se encontra em Barcelona. De novo, Smith tinha uma crença que era verdadeira e estava justificada, mas não parecia ter conhecimento.” Ora, mesmo satisfazendo a lógica proposicional, no exemplo, Smith não tinha conhecimento dos fatos.

Para Sosa (1991, p. 277): “O conhecimento é a verdadeira crença a partir da virtude, a crença que resulta certa em razão da virtude e não apenas por coincidência”. Já Zagzebski (1996, 271) diz: “O conhecimento é um estado de verdadeira crença decorrente de atos de virtude intelectual”. Percebe-se que existe uma diferença em estar claramente certo ou apenas certo até onde podemos determinar. O primeiro conhecimento se baseia em robustas bases cognitivas para decisão, enquanto o segundo se baseia na aleatoriedade da decisão. Ora, se temos conhecimento que a noite virá após o dia, isso deve-se a um alicerce cognitivo. O oposto é o acerto de combinações de cartas em um jogo de azar. Mais uma vez, a escolha correta das cartas se dá pela aleatoriedade do que pelo conhecimento.

Portanto, qualquer esforço de gestão de conhecimento ocorrerá sobre o conhecimento oriunda da virtude da razão. Gerir o caos é perda de recursos que são alocados eficientemente em projetos que possuem maior previsibilidade.

Gestão do Conhecimento

A gestão do conhecimento identifica recursos de conhecimento para seu gerenciamento, necessitando ser categorizados, classificados e armazenados para o reúso (O'LEARY, 1998). Gao, Li, Clarke (2008) complementam, gerenciar o conhecimento significa gerenciar as atividades de desenvolvimento; criação; captura; codificação; mineração; organização; distribuição; difusão; proteção, utilizando o conhecimento que geralmente são realizados por trabalhadores ou profissionais. O conhecimento não possui uma estrutura trivial, a representação deve se aproximar ao máximo do ideal, por esse motivo se faz necessário utilizar métodos (processos; metodologias; abordagem) para mapear o conhecimento e sistemas computacionais para registrar o conhecimento. 

Macintosh (1998) lista as razões para a gestão do conhecimento, a saber: concorrência, o mercado está cada vez mais competitivo e a taxa de inovação está aumentando, portanto, o conhecimento deve evoluir e ser assimilado em um ritmo cada vez mais rápido; foco no cliente,  as empresas estão organizando seus negócios para se concentrar na criação de clientes valor; estruturas de gestão, funções estão sendo reduzidas, tornando necessário substituir a gestão informal do conhecimento da equipe função com métodos formais no cliente processos de negócios alinhados; desafio de uma força de trabalho móvel, existem tendências para os funcionários se aposentarem mais cedo ou aumento da mobilidade, o que leva à perda de conhecimento; equidade no local de trabalho, com a implementação da equidade,  implica que as empresas devem garantir a equidade em termos de gênero, raça e credo, levando a perda de conhecimento devido à concessão de pacotes de indenização e aposentadoria antecipada a alguns funcionários; o imperativo global, a maioria das empresas está se tornando internacional no sentido de que relacionamento com clientes e fornecedores estrangeiros, mais empresas estão se tornando transnacionais operando como empresas verdadeiramente globais, no sentido de que nenhuma região é predominante. Portanto, a falta da representação dos conhecimentos resultará na perda de excelência da organização no médio e longo prazo.

Diversos métodos para mapear o conhecimento vêm sendo propostos ao longo do tempo. O conceito de “ba” se destaca pelo arcabouço teórico e filosófico da criação e gestão do conhecimento. Segundo Nonaka e Konno (1998), “lugar” é a tradução para a palavra japonesa “ba”. Além disso, o ba necessita de qualidade de “aqui e agora”. Os funcionários são inseridos na espiral do conhecimento, transcendendo as barreiras mentais, físicas e virtuais.

Continua...

GAO, F.; LI, M.; CLARKE, S. Knowledge, management, and knowledge management in business operations. Journal of knowledge management, 2008.

GETTIER. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation. 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Problema_de_Gettier&oldid=55149146. Acesso em: 01 nov. 2021. 

Macintosh, A. Position paper on knowledge asset management. 1998. Disponível em: http://www.aiai.ed.ac.uk/~alm/kam.html. Acesso em: 01 nov. 2021. 

NONAKA, I.; KONNO, N. The concept of “Ba”: Building a foundation for knowledge creation. California management review, v. 40, n. 3, p. 40-54, 1998.

O'LEARY, D. E. Enterprise knowledge management. Computer, v. 31, n. 3, p. 54-61, 1998.

SOSA, E. et al. Knowledge in perspective: Selected essays in epistemology. Cambridge University Press, 1991.

ZAGAEBSKI, L. T. Virtues of the mind: An inquiry into the nature of virtue and the ethical foundations of knowledge. Cambridge University Press, 1996.

1__rafael-rocha.jpg

Rafael Rocha

Mestre em Gestão & Organização do Conhecimento pela UFMG

Crio soluções de TI com foco em dados. Analista e Dev na UFMG. Mais de 15 anos de experiência profissional. Mestre em Gestão & Organização do Conhecimento pela UFMG